
“As categorias de diagnóstico apresentam um sumário dos sintomas das crianças, mas raramente nos informam o suficiente acerca dos processos que estão na base dos problemas, ou seja, como é que a criança recebe, processa e responde à informação do mundo.

Estes três aspetos biológicos são as bases da capacidade da criança pensar, sentir e interagir.

Por exemplo, uma criança pode ser diagnosticada com autismo pelas suas dificuldades em relacionar-se com os outros, quando um dos seus problemas de base relaciona-se, mais especificamente com o processamento da informação auditiva e a presença de hiperreatividade aos sons. Como resultado destes desafios, a fala e o barulho das pessoas à sua volta pode ser confuso e até assustador, fazendo com que esta criança se sinta emocionalmente desconfortável. De forma a proteger-se, ela refugia-se, isola-se e evita o contacto com outros. Estes comportamentos garantem-lhe um diagnóstico de autismo.

Outra criança, com desafios biológicos de base similares pode receber um rótulo diferente. Se a sua reatividade auditiva e problemas de processamento forem um pouco menos severos poderá ser difícil para a criança registar e decodificar a fala, mas o som da fala, por si só, não vai ser demasiado intenso ou doloroso para a criança.

Esta criança poderá relacionar-se com outros, mas reagir de forma mais lenta ou sentir-se confusa com as instruções. Assim, ela pode permanecer próxima de outros mas evitar interações que alimentam o desenvolvimento cognitivo. Se esta criança também demonstrar problemas de planeamento motor e movimento ela poderá receber o diagnóstico de atraso global de desenvolvimento.

Crianças com o mesmo rótulo podem ser mais diferentes do que parecidas e crianças com rótulos diferentes podem ter ser mais similares do que diferentes em termos das suas capacidades de base.”

Este pedaço de literatura foi retirado de um livro escrito em 1998 pelo Dr. Greenspan e Dra. Wieder.

Foi há mais de 20 anos atrás mas continua tão atual como a pandemia que vivemos.
Ter um diagnóstico médico é importante. Muitas vezes os pais e os educadores precisam de um nome. Mas nenhum diagnóstico define, por si só, aquilo que a criança é ou será capaz de fazer. Os diagnósticos médicos mostram-nos como os problemas se manifestam, mas só quando percebemos funcionalmente o que é que esta criança é capaz de fazer, quanto é que ela precisa de ajuda e – mais importante ainda – qual a base dos problemas, é que vamos conseguir compreender esta criança e ajudá-la a atingir o seu maior nível de sucesso.

Um diagnóstico é um rótulo. De nada vale se não compreendermos a criança por detrás desse rótulo.